domingo, 12 de outubro de 2014

Recuerdos Del Paisito: Punta Del Este

“Entre agua y aire brilla/el puente curvo/entre verde y azul las curvaturas/de cemento, dos senos y dos simas/con la unidad desnuda/ de una mujer o una fortaleza/sostenida por letras de hormigón/que escribe en las páginas del río”. (Pablo Neruda – 1904-1973). “Entre água e ar brilha/a ponte curva/entre verde e azul as curvaturas/de cimento, dois seios e dois abismos/com a unidade nua/de uma mulher ou uma fortaleza/sustentada por letras de concreto/que escreve nas páginas do rio”. (tradução livre, 11/10/2014).

A cidade uruguaia de Punta del Este, em sua origem, foi uma antiga vila de pescadores chamada Ituzaingó, vocábulo guarani que significa “cascata abundante”. Tratava-se de um porto pesqueiro, sendo também comum a caça aos leões marinhos.

Em momentos anteriores foi possível relatar alguma animosidade envolvendo uruguaios e argentinos, como, de certo modo, é natural entre países vizinhos que protagonizaram disputas historicamente. No entanto, em algumas oportunidades, no que diz respeito a impulsionar a economia por meio do turismo, a participação Argentina foi e é importante no Uruguai, como, por exemplo, no início do século XX, quando se fundou Piriápolis, conforme já narrado. No caso de Punta del Este não foi diferente. Nos anos 40 do século passado, também a presença dos argentinos teve um papel relevante na consolidação desta cidade como importante polo turístico uruguaio.

Atualmente Punta del Este, o balneário mais famoso do Uruguai, que figura entre os dez mais luxuosos do mundo e tem praias tanto fluviais - graças ao Rio da Prata - como oceânicas - já que é ali na Punta de Salinas que começa o Oceano Atlântico -, recebe cerca de dois milhões de turistas por ano, sendo este o seguimento econômico mais forte no local, o que faz dela uma cidade cara, onde se pode chegar a gastar, por exemplo, três vezes mais para comer do que normalmente no restante do país, inclusive na capital, Montevidéu. Na maioria das vezes, certamente, os turistas estão preparados para suportar esses gastos e o atendimento os compensa louvavelmente; contudo, trata-se de um aspecto que não pode deixar de ser destacado. A alta temporada na cidade, claro, acontece no verão, mas sempre há alguém curioso para conhecer a Praia Mansa e a Praia Brava. Passeando, além dos altos edifícios na parte central, se podem observar as casas de veraneio, limpas e bem cuidadas por caseiros e outras pessoas responsáveis pelos trabalhos domésticos, o que ajuda a garantir emprego aos moradores locais durante o restante do ano. Essas casas e mansões de veraneio do tamanho de quarteirões têm nomes e a maior parte delas não possui muros ou cercas. Curiosamente, a mais cara pertence a um empresário brasileiro e é hermeticamente fechada, o que não deixa de refletir a preocupação com a segurança, que tanto nos atormenta aqui no Brasil. A construção civil, assim, é também um setor econômico em alta em Punta, além do turismo; um setor que alavanca não apenas essa cidade, mas também suas cidades-satélites, onde os trabalhadores que executam as construções vêm residir.

Um projeto arquitetônico que acabou por tornar-se um frequentado ponto turístico do lugar são as pontes de La Barra, criadas pelo engenheiro civil uruguaio Lionel Viera (1913-1975) e inauguradas em 1965. Seu acentuado formato ondular, descrito no poema que inicia este texto, produz nos passageiros dos veículos uma sensação semelhante à que se tem em um desses brinquedos de parque de diversões. Por uma das pontes ondulares se vai, pela outra, ainda mais ondulada, se volta, com igual sensação, na direção contrária. Me lembrei de meu irmão, Thiago. Quando éramos pequenos e viajávamos de carro com os nossos avós, sempre pedíamos para o vô passar rápido pelas lombadas, pra gente sentir aquele friozinho na barriga... Foi assim, mas um pouco mais intenso, nas pontes de La Barra, em que alguns passageiros do ônibus emitiram gritinhos prazerosos, enquanto outros soltaram exclamações mais assustadas; lembrança doce.

O monumento símbolo de Punta del Este, além, certamente, do farol, que já caiu três vezes mas agora vai bem, obrigada, é uma escultura localizada na Praia Brava e conhecida como “Los Dedos”. Foi uma obra esculpida em apenas seis dias, pelo artista chileno Mario Irarrázabal (1940), que concorria a um concurso e o venceu com essa escultura. Alguns dizem que aquela mão simboliza o homem emergindo para a vida; outros garantem que o monumento retoma a prudência que se deve ter diante do mar. O que é possível afirmar realmente é que não se pode pensar em Punta del Este sem recordar a imagem daquela grande mão esculpida brotando da areia. É uma pena que, infelizmente, como aqui, também haja pichadores no Uruguai, e esses “artistas às avessas” se tenham encarregado de pichar até mesmo a mão que simboliza a cidade... Dizer o quê? Nada; mudar de assunto é melhor.

A maior parte dos turistas ficou maravilhada pela visão do requintado cassino Conrad. Eu, por meu turno, prefiro a emoção de passar pelas pontes ou a mão brotando da areia, que faz a gente se sentir tão pequeno ali, em pé, diante dela, sentindo a dureza firme do concreto, ouvindo o vento e a vastidão do mar. A arte sempre me faz pensar em quanta singularidade cabe nesse nosso “Mundo mundo vasto mundo”, que Drummond há tempos assinalou. Essa é a lembrança mais suave, e ao mesmo tempo forte e imediata, que trago e vou sempre levar de Punta. Toda a opulência restante, deixo para que a admirem aqueles que têm olhos de ver, assim como deixo também um conselho que tem muito a ver com o “carpe diem” dos antigos romanos: “Se podes olhar, vê; se podes ver, repara”. (José Saramago - 1922-2010).

Um comentário:

  1. Punta del Este , para ver , sentir e guardar na memória . Cidade linda e com muita história . Guardo para mim mtas lembranças , ficou o vazio frustante de ñ conhecer o Cassino por dentro , mas a vida dá voltas , quem sabe um dia ... Parabéns Yara , em sua crônica voltei para lá e foi mto bom . Carol

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