segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Recuerdos Del Paisito: Las Ramblas

Montevidéu tem 25 quilômetros de orla, oito praias de água doce, sim, doce! Trata-se do estuário gelado do Rio da Prata. E quando digo gelado, falo de um gelado que não muitas vezes conhecemos aqui no Brasil quando vamos à praia. Durante toda a viagem ouvi muito sobre como são bonitos os prédios na orla, como ela é bem-cuidada, como é seguro estar lá etc. etc. etc.. Contudo, as recordações que guardo da praia em Montevidéu são bastante particulares.

Fazia um dia, ou melhor, uma tarde bonita quando chegamos, um pouco depois do almoço, aquele friozinho com sol que eu havia aprendido a conhecer no Uruguai. Terminei de descer a escada e pisei a areia, fofa! Sempre gostei de brincar na areia fofa da praia; comecei instantaneamente a recordar minha infância, de tantas idas à praia com a família, principalmente com os meus avós. Meu avô me punha numa área livre da praia e dizia: “Corre”! E eu corria, ia, voltava... Sabia que a partir do momento em que ele me dizia isso, nada iria me atrapalhar; todo o cuidado já havia sido tomado. Era uma sensação incrível de liberdade, de poder estar sozinha e andar sozinha, algo que na cidade eu raramente experimento.

Quando pisei a praia de areia fofa em Montevidéu, essa recordação imediatamente me veio à cabeça. O vento no rosto era semelhante, embora um pouco mais frio, espanando não com tanta gentileza os meus cabelos em todas as direções sem que eu me preocupasse, tudo como antes. Essas coisas todas eu pensei, mas não disse. Claro que também não corri, mas não resisti a dar umas belas patinadas na areia!...

Uma amiga me dizia enquanto andávamos: “Olha, uma duna! Duas! Três”! E eu ali, toda encapotada, de botas, pensando: “Que coisa mais chata a gente estar tão coberta da cabeça aos pés na praia"... Mas não havia outro jeito. Eu pensava nisso, já sabendo de antemão que não resistiria à vontade de pôr pelo menos a mão na água, que certamente estaria fria e na qual não havia ninguém, mas que eu não deixaria de experimentar.

Andamos em frente, pela areia fina, fofa, branca e luminosa, pensando que, se não havia sal, como ela podia brilhar tão intensamente daquele jeito?... Comecei a ouvir o barulho da água se aproximando e tive a certeza de que eu não me comportaria tão bem por muito mais tempo. O salto da bota tocou a areia que começava a ficar molhada e consistente e continuamos alguns poucos passos. Me abaixei, toquei o chão que a água apenas roçava e mal se fazia sentir mesclada à areia e percebi que aquilo, para mim, não seria suficiente. Deixei uma sacola com alguns objetos, dizendo à minha amiga que já voltava. Fingindo que não ouvia a censura nas palavras dela, caminhei sozinha mais alguns passos para dentro do Rio-Mar da Prata, não muitos.

Ali já havia um pouco mais de água. Me contentei, resignada, e abaixei, segurando com uma mão a bolsinha com alguns pertences pessoais e tocando a água com a outra. Uma onda veio e revolveu a areia, afundando os meus saltos e me desestabilizando um pouco. Ergui firme a bolsinha e pensei: “Bom, o máximo que pode acontecer é eu levar um tombo de frente nessa água gelada e voltar molhada pro hotel; ta valendo”! No entanto, nada aconteceu. A onda voltou ao mar e devolveu a areia ao lugar onde estava antes, libertando os meus pés. Me abaixei com mais interesse e segurança, tocando irremediavelmente a água e tive uma grata surpresa: uma conchinha.

Nossa, sempre me surpreendi com as conchas; agora eu tinha na mão uma conchinha de Montevidéu... Que máximo! Comecei a esperar que as ondas escuras, calmas e geladas trouxessem outras conchas e a lavar aquelas que recolhia, todas brancas ou quase brancas e todas pequenas, do mesmo tamanho.... Sempre a vastidão do mar me trouxe um sentimento de interrogação. Eu tocava a água que sentia densa e gelada, recolhia e lavava as conchinhas e percebia de novo aquele velho sentimento crescer, ouvindo o barulho manso das ondas.

Mas infelizmente era preciso ir. Me levantei, girei nos passos e comecei a fazer o caminho de volta, recolhendo, no entanto, conchinhas da areia, que batíamos e se limpavam facilmente, iguaizinhas às que vieram do mar. Creio que devo ter passado naquela praia cerca de meia hora. Porém, nunca pensei que em metade de uma hora coubessem tantas sensações, tantos sentimentos, enfim, tantas coisas. Mas quando sabemos que estamos em um lugar ao qual possivelmente só iremos uma única vez, tudo se potencializa e intensifica.

Subi as escadas para sair e foi como se o tempo, esquecido de passar, voltasse a correr. Os carros e pedestres, o som do espanhol tranquilo que ia e vinha como o mar me lembraram que a vida continuava lá fora. Então segui sem me voltar, me preparando para o novo, que certamente viria depois...

2 comentários:

  1. Quando conseguimos nos abstrair de algo para fazer um parênteses e então viver e vivenciar um tempo diferente , singular e único é algo que nos remete mtas vezes à recordações , sonhos ,; é algo que nem pode , muitas vezes ser dividido naquele momento , pois é pra ser curtido . Toda emoção e felicidade é só nossa . As sensações as descobertas são algo que preenche nossas almas e nos transporta pra situações e lugares diversos . A orla é sim maravilhosa , bem frequentada e encantadora ; o Rio da Prata é imenso e lindo ; a areia da praia nos faz voltar à infância .Estar lá é viver algo muito bom e inesquecível . Amei a crônica Yara . Parabéns . Bjkas . Carol

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  2. Que bom que gostou, vc que vivenciou junto comigo tudo isso... Bjsss

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